Casal de maragatos em busca de Francisco Beltrão (PR)
NEUTRO
11 de abril de 2013 Quinta-feira – Depois de algumas semanas de
planejamento e combinações com a prima Josiani Brenner, saímos de Caxias do Sul
com destino a Novo Hamburgo, para deixar o Artur na casa dos tios e da vó, para
que pudéssemos no dia seguinte partir em direção ao Paraná, mais precisamente
para a cidade de Francisco Beltrão, onde moram os primos da Suzi, Eduardo e
Josiani, nossos afiliados de casamento que não víamos a 10 anos pelo menos. E
para minha surpresa, quando chego em casa tem um cara me esperando pronto para
fazer a viagem de Caxias a NH de moto na minha garupa. Nesse dia o Artur faria
aquela que seria até então sua maior viagem. O trajeto até NH transcorreu tranquilo,
embora eu estivesse apreensivo com as reações do meu garupa, mas esse se
mostrou um motociclista experiente apesar de seus 7 anos 10 meses e 21 dias.
Inclusive quando fomos fechados por uma Kombi que forçou a ultrapassagem para
em seguida entrar numa rua a direita em Dois Irmãos, prontamente meu bad boy
ergueu o braço mostrando vigorosamente o dedo do meio ao incauto motorista!
ENGATANDO A PRIMEIRA
Dia 12 de abril de 2013 –
Sexta-feira – 04h30min toca o despertador e o despertar acaba confirmando um
receio que tínhamos desde o início da semana: A frente fria acabava de chegar e
os primeiros pingos de chuva já molhavam o calçamento. Já se podia sentir o
cheiro de terra molhada. A Gringona já estava preparada pra isso, as bagagens
haviam sido todas colocadas em sacos de lixo preto, que garantiriam roupas
secas na chegada. E eu sempre digo que a estrada só tem um sentido e é aquele
que nos leva ao nosso destino! Vestimos nossas roupas impermeáveis, galochas e
as 5h30min tiramos a Gringons em direção a BR-116, pois esse foi o trajeto escolhido, por já termos a previsão de chuva para o inícia da garagem. Mas foi só alcançarmos a rua e
desabou o dilúvio. Desistir da viagem? Nunca. E lá fomos nóo da viagem, e esta ser a estrada que mais conhecemos e que embora
seja de muitas curvas, está muito bem sinalizada em todo o trajeto até Vacaria,
onde entraríamos na BR-285. Em Picada Café a chuva apertou ainda mais e
confesso que cheguei a pensar em parar e aguardar um pouco, mas decidi reduzir
a velocidade para uns 40km/h e seguir viagem. Chegamos por volta das 7h30min na
Encruzilhada de Ana Rech, onde paramos no posto Shell para abastecer e tomar um
café na lancheria do meu amigo Zé ( O Zé também é motociclista, tendo sido
escolhido motociclista do ano juntamente com sua filha pela AMO em 2010). Nem ele, com toda sua
experiência motociclística acreditou que empreenderíamos essa viagem tão longa
e com um tempo daqueles, mas depois nos confessou que já havia feito aventuras
semelhantes.
ENGATANDO A SEGUNDA
– As 8h15min arrancamos a Gringona e saímos de
Caxias em direção a São Marcos e Vacaria, sempre embaixo de muita chuva, o que
na serra não permitia velocidades acima de 50km/h. O planejado era seguir pela
BR-116 até Vacaria e ingressar na BR-285 em direção a Lagoa Vermelha, num
trajeto de 180 km até o próximo ponto de abastecimento. E assim o fizemos.
Neste trecho, tanto a 116 como a 285 são pedagiadas, estando em bom estado de
conservação e com boa sinalização, o que permite uma pilotagem segura mesmo sob
chuva ou neblina. E aí firmei um conceito: numa viagem longa vale a pena
percorrer um trajeto maior se a estrada for melhor. O que cansa não são os km´s
percorridos e sim a tensão de uma estrada esburacada e mal sinalizada. As 11
horas chegamos a Lagoa Vermelha para o que deveria ser uma parada rápida de
reabastecimento não fosse o meu celular profissional que insistiu em tocar sem
parar por quase uma hora, atrasando a nossa viagem. A Suzi tomou um café, comeu
um sanduíche, foi ao banheiro e eu lá atendendo o tal telefone, mal conseguindo
tomar um cafezinho. Ao meio dia, finalmente conseguimos seguir nosso caminho.
ENGATANDO A TERCEIRA
Saímos de Lagoa Vermelha ainda
pela BR-285 em direção a Passo Fundo, num trecho de 80km que é conservado pelo
DNIT, mas que também está em bom estado e bem sinalizado, tem retas longas,
curvas, subidas e descidas suaves que cortam o Planalto Central do nosso
estado. Em Passo Fundo pegamos a RS-135 em direção a Getúlio Vargas, pois
havíamos encomendado um colete de couro na Couromania para a Suzi e tínhamos
combinado de aproveitar a viagem para passar lá e buscar o colete. Eu havia
passado lá na segunda-feira, deixado os patchs, e eles me emprestaram dois
tamanhos de colete para a Suzi experimentar, e estávamos devolvendo estes e
buscando o colete novo dela. Neste trecho fizemos 140 km´s, chegando na
Couromania por volta das 14h. Depois das apresentações, pois a Suzi ainda não
conhecia o pessoal, o Chico e sua esposa, que também são motociclistas e fazem
parte do Moto Grupo Andantes do Abaúna de Getúlio Vargas, tiramos muitas fotos,
fomos chamados de corajosos, para não dizer loucos, e seguimos viagem para
Erechim, sempre abaixo de chuva, num
trecho de mais ou menos 35 km, onde abastecemos novamente, pois não teríamos
combustível suficiente para chegar a Chapecó- SC.
ENGATANDO A QUARTA
Em Erechim pegamos a RS 480, num
trecho de 110 km até Chapecó-SC, passando pelos municípios de Barão do
Cotegipe, São Valentin e Erval Grande, até chegarmos a ponte do Rio Uruguai na
divisa dos estados do Rio Grande do Sul e Santa Catarina. Neste trecho a
estrada está muito ruim, com muitas crateras, desníveis e trechos que cruzam as
cidades. No trecho que corta São
Valentim não dá pra andar a mais de 40km/h, pois são muitos quebra-molas e o
trecho urbano está em péssimo estado de conservação. A Descida do Planalto até
a ponte da divisa proporciona uma linda paisagem, embora a chuva não nos
largasse, havia enfraquecido e permitiu uma parada para fotos. Atravessamos a
divisa e subimos em direção a Chapecó, num trecho de 11 km muito ruim, mas com
terceira pista o que possibilitou ultrapassarmos várias carretas que chegavam a
Santa Catarina. Chegamos no trecho urbano de Chapecó as 16h., hora do rush,
cidade grande, uma sinaleira em cada esquina e no meio dois quebra-molas. Um
trecho de 20 km´s acabou demorando quase o mesmo que os últimos 80. Na saída de
Chapecó fizemos nossa última parada para reabastecimento antes do nosso destino
final – Francisco Beltrão. Neste trecho foi a única vez na viagem de ida que a
chuva nos deu uma trégua,mas o que é bom iria durar pouco.
ENGATANDO A QUINTA
Como o tempo ainda estava
anunciando chuva, continuamos com nossos impermeáveis na saída de Chapecó em
direção a BR-283 sentido oeste até Palmitos, num trecho de 42 km´s que fizemos
em meia hora. E a chuva, bom, ela voltou. Em Palmitos viramos a direita na
SC-469, cruzando os municípios de Modelo, Serra Alta, Saltinho até chegar em
Campo Erê na divisa de SC com o Paraná, num trecho de 75km´s atravessando 03
cidades, a noite, com muitos quebra-molas, atrás de um comboio de carretas,
todas de 22m de comprimento. Um trecho de serra com muitas curvas e muito mal
sinalizado. Ah, e a chuva, ela voltou, fina como um spray de desodorante,
dificultando ainda mais a visibilidade e em sua companhia trouxe uma neblina
espessa em alguns trechos. Quase um filme de terror, mas que com calma e
persistência fomos dominando e percorrendo. Na chegada em Campo Erê, paramos
numa sociedade (aquelas com cancha de bolão e mesa de truco) para pedir informação
e uma senhora com uma concha na mão, recém retirada de uma panela de sopa de
agnoline nos informou o caminho. Todos
ali, os que estavam na cancha de bolão, os da mesa de truco e os que
simplesmente aguardavam a sopa, nos olharam incrédulos quando dissemos que já
havíamos percorrido 700km´s abaixo de chuva para visitar amigos em Francisco
Beltrão.
Saímos de Campo Erê atrás de um
caminhão para percorrer um trecho de 35 km até Marmeleiro no Paraná pela
rodovia Ulisses Viganó, sem enxergar niente, só no rastro do caminhão. Já
cansados, finalmente chegamos a Marmeleiro no Paraná, faltando agora 11km para
nosso destino final. Ao chegarmos a Francisco Beltrão fizemos uma parada num
posto da Polícia Rodoviária Estadual para pedirmos informação sobre o endereço
dos primos e seguimos para procurar nosso destino final. Ao pararmos numa casa
para perguntar o nome da rua, resolvi dar meia-volta, e eis que não consegui
mais segurar a Gringona e ela deitou-se extenuada. Mas não dá nada, a Suzi me
ajudou a levantá-la, demos a volta na quadra e estávamos na frente da casa dos
primos. Uma businada e escutamos o Eduardo reclamando que não tinha pedido
nenhuma tele-entrega. Depois, apareceu na porta não acreditando quem eram os
malucos que chegavam as 21 horas de uma sexta-feira chuvosa em frente a sua
casa depois de terem percorrido 742 km´s. Não somos malucos, somos Maragatos!
NEUTRO – GARAGEM – LAVAGEM –
FRONTEIRA ARGENTINA
Fomos recebidos com muito
entusiasmo pelos primos paranaenses, tiramos nossas roupas de chuva e depois de
muitos beijos e abraços fomos tomar um verdadeiro café colonial preparado pela
prima Josi. Ela havia comprado uma nega-maluca que daria para alimentar todos
os Maragatos e ainda sobraria para a viagem de volta. Depois um papo até as 3h
da manhã para colocar em dia 12 anos de ausência. Dormir é para os fracos e nós
somos Maragatos!
No sábado acordamos lá pelas 9
horas, e pedi que o Eduardo me levasse até um posto de gasolina para passar um
lava-jato na Gringona que estava coberta de barro, já que o dia havia
amanhecido com sol entre nuvens, prenunciando tempo bom. No posto conheci
alguns motociclistas locais, trocamos experiências, tomamos um café, marquei o
lugar com um adesivo Maragato enquanto a Gringona e nossos impermeáveis eram
lavados. Serviço de primeira.
O primo Eduardo também é
motociclista, Jaspion, mas motociclista. Depois de um belo risoto preparado
pela prima josi e de um bom bate-papo com o Lothar e o Felipe, filhos do
Eduardo e da Josi, decidimos fazer um passeio de moto até a divisa com a
Argentina. De quebra, traríamos algumas guloseimas e umas garrafinhas de vinho
que seriam degustadas a noite num belo churrasco de costela acompanhado de
muito bate-papo. Pois é, mas o que é bom dura pouco, e já estava na hora de
descansar para iniciar no dia seguinte a viagem de volta para o Rio Grande
Maragato!
A VOLTA PRA CASA
ENGATANDO A PRIMEIRA
Domingo, 14 de abril de 2013, 8h
de uma manhã ensolarada, nos despedimos
dos primos prometendo não esperar outros 12 anos pra nos encontrarmos
novamente, e saímos de Francisco Beltrão iniciando a viagem de volta a Novo
Hamburgo. O caminho seria um pouco diferente a partir de Santa Catarina.
Passamos novamente por Marmeleiro, Campo Erê, Saltinho, Serra Alta, Modelo e
Palmitos. Como o dia estava ensolarado, pudemos ver o que não vimos na ida pois
neste trecho havíamos passado a noite. Algumas paradas para fotos desta vez
foram possíveis. Chegamos na BR 282 em Santa Catarina e fomos sentido oeste até
Maravilha, onde viramos a esquera no trevo da BR158 até a divisa com o Rio
Grande do Sul. Um trecho de 180 km até a parada de reabastecimento ainda em
Santa Catarina, depois seguimos 12 km´s até a Ponte do Rio Uruguai, onde
atravessamos a fronteira e estávamos de volta ao Rio Grande querência amada!
ENGATANDO A SEGUNDA
Paramos na cabeceira da ponte
para almoçar e tirar algumas fotos. Comemos um delicioso Dourado assado,
conversamos com alguns motociclistas que também foram até ali almoçar, marcamos
o lugar com o adesivo dos Maragatos e seguimos viagem pela BR-386 adentrando
nosso estado. Passamos por Iraí e Frederico Westphalen num trecho de 140 km até
Sarandi. Nesse trecho a BR-386 está
muito ruim, com muito desnível na pista e uns cucurutos, que parecem quebra-molas
e que são quase invisíveis. A Suzi quase voou fora da moto umas três vezes, e
tive que reduzir a velocidade pois parecia que estava andando com os dois pneus
furados. Em Sarandi nova parada para reabastecimento no posto Papagaio, cujo
dono nos recepcionou sobre o encosto de um banco de concreto. Era ele, o
próprio Sr. Papagaio.
ENGATANDO A TERCEIRA
Saímos de Sarandi em direção a
Carazinho, Tio Hugo e Soledade. Finalmente estrada boa pra rodar e colocar 100
km/h na Gringona. Uns 5 Km´s antes de
Soledade no dia anterior havia acontecido um acidente envolvendo 4 caminhões e
chegamos lá justo na hora em que estavam retirando o último caminhão,
interrompendo a estrada por cerca de 15 minutos. Foi suficiente para que um
carro encostasse ao nosso lado e o motorista se identificasse como
motociclista, também dono de uma Shadow,
e nos convidou pro encontro de Soledade nos dias 19 a 21 de abril de 2013.
Dei-lhe um adesivo dos Maragatos, trocamos telefone, a pista foi liberada e
seguimos viagem até Pouso Novo, nossa última parada de reabastecimento nesta
aventura!
ENGATANDO A QUARTA E A QUINTA
Depois de abastecermos a Gringona
e os gringos e alemães, seguimos viagem passando por Lageado, Estrela e
chegando a Tabaí ao escurecer, em meio a muito trânsito, pois passamos ali bem
na hora que terminou o jogo entre Inter e Juventude no estádio do Lageadense.
Mais uma goleada que os verdes levaram. Eles devem estar com saudade do tempo
que eram nossa touca. Voltando pra estrada, passamos por Montenegro, Portão,
Sharlau, e voltamos ao nosso ponto de partida. Muitos amassos e beijos no
Artur, cansados mas muito felizes por termos passado mais um final de semana na
estrada, revendo amigos queridos, desbravando fronteiras e acumulando histórias
e divulgando o verdadeiro espírito da Irmandade Maragata.
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